quarta-feira, 16 de junho de 2010

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"É bom escrever porque reúne as duas alegrias: falar sozinho e falar a uma multidão" - Cesare Pavese

terça-feira, 15 de junho de 2010

Simples como chocolate

Essa semana foi de pagamento. Recebi a bolsa do estágio e paguei as contas do mês. Isso quer dizer que em 5 dias estarei tão lisa quanto semana passada.
Caralho, isso não acaba nunca, quando uma prestação acaba, outra começa, geralmente não por vontade minha. As contas se acumulam, se alternam, se repetem, atrasam, são parceladas, se acumulam, chegam todas ao mesmo tempo, e assim sucessivamente...
Nessa tarde ganhei uma barrinha de chocolate, aquelas recheadas com creme de morango, sabe? Não lembro o nome, uma dessas comunzinhas que têm no caixa do supermercado.
Pois essa barrinha inocente explodiu em lembranças na minha cabeça.
Quando era criança (ah, que saudades que eu tenho do meu tempo de criança, que saudade ingrata...), sempre pedia um ovo de chocolate com morango na páscoa.
Daí eu lembrei do gosto que o bendito chocolate tinha: gosto sem culpa! Apenas o doce, sem pensar nas calorias, na gordura trans, na celulite, na corrida que vou fazer porque quebrei a dieta! Coner chocolate porque deu vontade, não porque preciso de doce na TPM. Simplesmente sabor. E comer cada pedacinho, curtindo, saboreando, lambuzando, e nem aí pro farelo na cama!
Ao mesmo tempo, lembrei que meus pais faziam pegadinhas de coelho pela casa, e me acordavam cedinho: "filha, o coelho deixou um presente, vamos procurar!"
Ah, e o pijama peluciado, e o calorzinho da casa fechada de manhã, meus pais se prestando à brincadeira... que coisa boa.
Pode ser que a lembrança seja mais enfeitada do que o acontecido de fato, mas a memória nos prega essa peças!
Sempre que penso na páscoa, lembro do meu pai. Não nos falamos há anos! Não sei porque, mas nessa data a lembrança fica mais forte. Ele não come chocolate, e eu sempre queria comprar amendoim, afinal "amendoim ele come, mãe!"
Eu sabia do prazer da páscoa e do chocolate (embora não tivesse essa consciência), e queria que ele se sentisse feliz com isso também.
Numa daquelas "caçadas", ganhei um bloco de desenho imenso e lápis de cor. O bloco ficou na memória. Desenhei um cavalo imenso, que ficou sem cabeça por causa da minha escassa noção de espaço, mas ficou o cavalo mais lindo do mundo assim mesmo.
Também pensei na minha mãe, pensei nela com tanta força, com tanta saudade... Pensei em tudo que ela passou, o que enfrentou, o jeito despachado, alegre, agitado, sempre com uma cuia na mão e uma risada que alcança tons tão altos capaz de trincar vidros e arrebentar tímpanos (tenho certeza que isso vai acontecer um dia!).
Pensei no apartamento da Santana, da casa na ladeira, daquela páscoa na Argentina, na casa chiquérrima, de uma tia chiquérrima, que sempre me deixava de cara, de um jeito ou de outro.
Isso tudo acontece na metade da barra, que tem só quatro quadradinhos minúsculos.
Depois dessa nostalgia toda, que deve ter durado um ou dois segundos, meus olhos passaram pela pilha de contas de novo, e os dois últimos pedaços tiveram aquele gosto de chocolate pra curar tristeza. Não teve a menor graça.
Essa vida de adulto às vezes cansa.
Tem horas que eu queria que minha mãe resolvesse meus problemas de novo.
Mas é sexta feira, dia de cerveja.
Vale pelo chocolate das páscoas passadas.



Escrito em 11 de junho de 2010. Nada em clima de dia nos namorados, mas tudo bem. 


sexta-feira, 11 de junho de 2010

Do Direito de Escolha


Aborto não é método contraceptivo. Nunca foi. Mas assim como a prostituição é uma das profissões mais antigas do mundo (junto com a de bibliotecário!), o aborto é uma prática muito antiga, realizada por muitas mulheres desde sempre.

Nem vou falar dos casos de estupro, ou de má formação. Apenas do direito de escolha, pessoal e intransferível!

Chás, ervas, poções do todo tipo fazem parte do universo feminino. Toda mulher conhece algum chazinho pra descer a menstruação, toda mulher conheçe alguma outra mulher que já passou por uma situação complicada como uma gravidez indesejada.

E isso acontece? E agora? Agora a mulher carrega todo o fardo sozinha, seja qual for sua decisão. Se decide ter esse filho nesse momento, tendo ou não um pai presente, vai enfrentar muitos desafios. Vai ter que encarar o olhar de reprovação dos amigos, da família, da família do pai (caso ela se manifeste), do patrão; vai sentir seu corpo se modificando (leia-se deformando) dia após dia, vai sentir o enjoos, vai sentir o cansaço, o peso da barriga, as estrias, o peito crescendo de maneira descomunal, o medo e a dor do parto; é a mulher que vai deixar de beber e sair na noite, é a mulher que vai acordar nas madrugadas para amamentar, ela vai ficar com os peitos cheios de leito manchando as camisas! E por mais que o homem possa participar nisso tudo, a vida dele nao se tranforma tanto.

Se por outro lado, a mulher decide que esse não é o momento certo para esse filho nascer, que ela não tem estrutura psicologica, financeira, social, para ser mãe (e sim, pode ser sexualmente madura, mas nao estar pronta para ter filhos! qualquer um que argumente em contrário está sendo ridiculamente moralista!), e toma a decisão de abortar, e agora? No Brasil, o aborto é proibido, e quem comete esse delito cumpre pena, presta serviço comunitário. Se isso não for verdadeiro, por favor, me corrijam. Mas também me digam se não é um crime forçar uma mulher a modificar sua vida pelo avesso, e ter um filho que não quer.

A mulher que toma essa decisão sofre. Não é fácil. Tenho amigas que abortaram há anos, mas até hoje lembram a data exata que o fizeram. Essa mulher vai tomar todos os tipos de chás e remédios que lhe indicarem, os mais amargos possíveis, vai buscar clínicas, sabe-se lá quais e como ela vai encontar! Ela vai olhar crianças na rua durante anos, e vai lembrar do que fez, mas também vai lembrar que não podia fazer diferente na epoca.

E mais uma vez, caso o homem participe do processo, não vai passar pelo procedimento, pelo medo, pela desconfiança, pela dor, não vai sangrar, não vai ter que fazer curetagem caso algo dê errado, não vai ter que mentir, e quando passar toda a agitação, é bem capaz que comente com amigos e dê risada como quem diz "me livrei de uma!".

Não cabe a ninguém julgar. É uma decisão que cabe apenas à mulher! Apenas ela pode decidir o que vai ser  do seu corpo e da sua alma. Quem nunca passou por isso, não pode julgar o sofrimento alheio, e mesmo quem passou, não tem esse direito, cada pessoa é diferente.



"Pesquisa revela que uma em cada sete mulheres já abortou no Brasil

Agência Brasil

Uma em cada sete brasileiras entre 18 e 39 anos já abortou. Cerca de 80% delas têm religião, 64% são casadas e 81% são mães. Isso é o que mostra o primeiro levantamento direto sobre o aborto no país, feito pela Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.
Foram entrevistadas 2.002 mulheres, das quais 15% declararam já ter abortado. De acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número representa 5,3 milhões de mulheres.

Um dos mitos derrubados pelo estudo é o de que abortar é mais comum em classes sociais mais baixas e entre adolescentes. “Quem aborta é a mulher comum, é sua prima, namorada ou vizinha”, afirma um dos coordenadores do estudo, o pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Medeiros.

O aborto ocorre em todas as classes sociais mas, na maioria das vezes, em aproximadamente 35% dos casos, a mulher recebe entre dois e cinco salários mínimos. A faixa etária em que mais abortam é entre 20 e 24 anos. Cerca de 24% das entrevistadas declararam ter feito o aborto nessa idade.

Os dados da pesquisa são inéditos porque até agora os números sobre aborto no país eram baseados em estimativas indiretas, como a procura por serviços públicos de saúde após um aborto.

Para Medeiros, o dado mais surpreendente é que 55% das mulheres são internadas logo após o aborto. “É uma taxa muito alta e isso é gravíssimo porque significa não só que elas precisaram ir a um hospital, mas que permaneceram lá com sérias complicações de saúde”, afirmou.

O pesquisador defende a descriminalização do aborto como forma de reduzir os danos à saúde da mulher. “Esses números terão impacto nas discussões sobre a legislação, afinal agora sabemos que a mulher que aborta está no nosso cotidiano. Você quer que sua conhecida que abortou seja presa?”, questiona.
Atualmente, só é permitido abortar se a gravidez oferece risco à vida da mulher ou quando é resultado de estupro. Ainda este ano, o Supremo Tribunal Federal deve decidir sobre a permissão da retirada do feto também em casos de anencefalia (má-formação que impede o desenvolvimento do cérebro).

No Congresso, deve ser votado o Estatuto do Nascituro, lei que garante proteção jurídica aos embriões, o que eliminaria a possibilidade de aborto legal em qualquer caso, inclusive o de estupro."

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Vulcão...

Um pequeno presente do meu amigo Belizário... satolepano de olhos doidos!!

Cheiro de flor

Por essa, nem o maior dos poetas podia imaginar!
Ou plagiar em versos,
o amor reencarnado
que não pôde esperar.

Não tarda a infinitude
daqueles que se admiram...
que reconhecem o cheiro...
que se amam...não tarda não.

Lembro-te: foi como um vulcão!
Que adormecido esperava,
em terra cinzenta,
de malogros,
de falta de sintonias...vida amarga.

Jamais terás de minha boca,
o gosto de remorso,
dos que se remoem no por que tudo se acabou...
Não sou promíscuo com o adeus.

Sou como um pássaro...asas...
Tenho quatro patas,
de arco e flecha amolada,
todo avante,
e que não sabe esperar!

No meu peito,
nos meus braços,
levo um cheiro de flor...amada! 

Belizario, outono 10.


Fica a dica: http://belizariando.blogspot.com/