segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sonhos I

Depois de um longo trabalho, pesquisando e coletando dados, ela resolveu seguir a dica de alguém, cujo rosto não ser recordaria nunca mais. O homem lhe falava pra entrar na água, ela ia gostar.
Tratava-se de um rio pequeno, com algumas pedras grandes no seu leito, não era mais largo que alguns poucos metros,mas era fundo o suficiente para que pudesse ficar de pé e com a cabeça pra fora.
A princípio, a água parecia gelada, mas rapidamente essa sensação passou, e o rio mostrou-se quente e confortável, poderia passar horas ali dentro.
Alguns amigos estavam do lado de fora, observando das pedras, mas nenhum entrou, apenas observavam e sorriam com o seu deslumbramento.
Estar dentro daquele rio transmitia tanta calma, tanta paz... ela podia sentir o sol no seu rosto, e a água refrescando seu corpo, e aquela água tão clarinha, tão transparente, que podia ver a unha de seus pés pintados de roxo. Ali dentro encontrou a paz que não encontrava há muito tempo. Finalmente tudo fez sentido. Finalmente conseguiu perdoá-lo. Finalmente encontrou forças para seguir em frente.


No meio de toda essa epifania, quando parecia que aquele momento não poderia ser mais mágico, uma grande surpresa acontece. De repente, ela vê uma agitação na água, vindo da cabeceira do rio.
São peixes, centenas deles. Mais do que isso, são carpas, coloridas e brilhantes, laranja, rosa, pretas e brancas.
Elas passam por ela, beliscam seu corpo, nadam ao seu redor, como numa dança mágica.
A carpa representa força para alcançar os objetivos, perseverança, superação, conquista. Representam jóias vivas que nadam.
Com certeza, esse sonho é um presente, foi uma visita a algum lugar espacial.
E trará boa sorte.

sábado, 22 de janeiro de 2011

L'illusonniste

Fica a dica pra assistir essa animação francesa, muito linda, apesar de muito triste também.


 


Magiciens n'existent pas.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Lisbon Revisited

(Fernando Pessoa - Álvaro de Campos)

NÃO: Não quero nada. 
Já disse que não quero nada. 
Não me venham com conclusões! 
A única conclusão é morrer. 
Não me tragam estéticas! 
Não me falem em moral! 
Tirem-me daqui a metafísica! 
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas 
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!)
Das ciências, das artes, da civilização moderna! 
Que mal fiz eu aos deuses todos? 
Se têm a verdade, guardem-na! 
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. 
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. 
Com todo o direito a sê-lo, ouviram? 
Não me macem, por amor de Deus! 
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? 
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? 
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. 
Assim, como sou, tenham paciência! 
Vão para o diabo sem mim, 
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! 
Para que havemos de ir juntos? 
Não me peguem no braço! 
Não gosto que me peguem no braço.  Quero ser sozinho.  
Já disse que sou sozinho! 
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia! 
Ó céu azul — o mesmo da minha infância — 
Eterna verdade vazia e perfeita!  
Ó macio Tejo ancestral e mudo, 
Pequena verdade onde o céu se reflete! 
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje! 
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta. 
Deixem-me em paz!  Não tardo, que eu nunca tardo... 
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!



sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Duas canções de silêncio

Vinícius de Moraes
 
Ouve como o silêncio
Se fez de repente
Para o nosso amor
Horizontalmente...

Crê apenas no amor
E em mais nada
Cala; escuta o silêncio
Que nos fala
Mais intimamente; ouve
Sossegada
O amor que despetala o silêncio...
Deixa as palavras à poesia...
 
 

Poema de amor

Pablo Neruda


Nós perdemos também este crepúsculo.
Ninguém nos viu à tarde de mãos unidas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Vi, de minha janela
a festa do poente nos montes distantes.

Ás vezes qual moeda,
acendia-se um pouco de sol nas minhas mãos.

Eu te recordava com a alma apertada
por essa tristeza que tu me conheces.


Então, onde estarias?

Junto a que gente?
Dizendo que palavras?
Por que me há de vir todo o amor de um golpe

quando me sinto triste, e te sinto distante?


Caiu-me o livro que sempre se escolhe ao crepúsculo,
e como um cão ferido rolou-me aos pés a capa.


Sempre, sempre te afastas pela tarde
até onde o crepúsculo corre apagando estátuas.





Belizario, primavera 09.

Lava e leva

Meus amores se desfazem entre minhas mãos.
São gotas d'água, são grãos de areia.
Pegasus a bater asas nos céus.
Pássaros que migram para novas terras.
São como pé de vento, pé de chuva...
lava e leva.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

É nas quedas que o rio cria energia!

Vou sim sentir falta de muitas coisas. E morro de ciúmes de pensar que outra pessoa vai dividir a tua cama, a tua vida, os teus sonhos, teus medos, e eu não farei parte de nada disso, a não ser como uma lembrança. Não gosto de pensar que vai dançar com outras pessoas, que vai cozinhar pra outras pessoas, que vais dividir o teu copo com outras pessoas.
Nesse acordo, a minha participação não foi significativa, não tive direito de escolher, pois não havia o que escolher! Só podia concordar, mesmo não concordando.
E tive sim, muita raiva. E chorei, e bebi e me calei. Até conseguir sufocar meu coração que esperneava. Estranho que ele tenha parado de se mexer. Talvez tenha entrado em coma com o sufocamento, mas é melhor assim. Meu lado racional assumiu o controle de novo.
Mas agora parou de doer.
Pelo menos parece.