sábado, 30 de abril de 2011

Antítese

Como pode passar um coração do dilúvio à seca?
Preciso aprender a buscar as coisas nos lugares certos.
A paz que estou precisando, não está nas multidões, não está nas noites, e tampouco num copo de cerveja.
Mas às vezes é difícil ficar em silêncio com meus pensamentos, não sei se estou preparada pra ouvir o que eles tem pra me dizer.
Mudar o enredo dos pensamentos não é fácil, e só porque um filme saiu de cartaz, não quer dizer que eu não veja as reprises.
Elas ajudam, sim. Gastam. Cada vez que projeto uma, ela fica mais amena, mais distante, menos dolorida. E a cada projeção, mexo com as cores. Crio uma intriga aqui ou ali, idealizo uma cena, mudo os personagens de lugar, ou em algumas projeções mais doloridas, destaco um personagem: de coadjuvante à protagonista.
Pra nao ficar assistindo essas reprises, busco a noite, o barulho, pessoas, outros pensamentos. Descubro assombrada que não tenho muita paciência pra nada disso. Quero as pessoas, mas não quero. Quero a noite, mas quero estar em casa. Quero o barulho, mas ele me incomoda.
Nada me satisfaz.
Estou buscando coisas erradas nos lugares errados, ou melhor, estou buscando não sei o que, em qualquer lugar.
Sei que preciso encontrar o foco de novo, uma tsunami passou e mudou todos os planos, agora, eu me viro com os destroços. Não, nem tudo é tragédia. Minha casa interior está sendo reconstruída. Amigos, família, religião, tudo isso está recriando os alicerces, logo mais, vem a decoração. Logo mais ela será habitada.
Logo mais... logo mais eu volto. Inteira.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Atraso Pontual



Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relogio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?


Paulo Leminski

terça-feira, 19 de abril de 2011

Em tratamento [2]

Regra Três

Tantas você fez que ela cansou
Porque você, rapaz
Abusou da regra três
Onde menos vale mais

Da primeira vez ela chorou
Mas resolveu ficar
É que os momentos felizes
Tinham deixado raízes
no seu penar
Depois perdeu a esperança
Porque o perdão também cansa de perdoar

Tem sempre o dia em que a casa cai
Pois vai curtir seu deserto, vai.
Mas deixe a lâmpada acesa
Se algum dia a tristeza quiser entrar
E uma bebida por perto
Porque você pode estar certo que vai chorar 





sexta-feira, 15 de abril de 2011

Starting a gratitude practice

1. Commit.
2. Begin.
3. Write it down.
4. Feel it.
5. Choose a set time of day.
6. Practice present-moment gratitude.
7. Share the gratitude.
8. Don’t stop once you start to see results!
9. Allow yourself to be human.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A Flor e a Náusea

Sobre a tentativa de perdão, 
sobre cada dia após as costelas quebradas, 
sobre cada vitória sobre mim mesma. 


Preso à minha classe e a algumas roupas,Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me? 
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobrefundem-se no mesmo impasse. 
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova. 
As coisas.
Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase. 
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem. 
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal. Os ferozes leiteiros do mal. 
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvoe dou a poucos uma esperança mínima. 
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu. 
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor. 
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia.
Mas é uma flor.
Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Carlos Drummond De Andrade 



domingo, 10 de abril de 2011

Novas quedas

Não queria, alias, ninguém iria querer isso, a não ser que seja muito masoquista. Mas sinto que está acontecendo tudo de novo. Além da separação física, parece que a separação de almas esta acontecendo.
Ausências, ausências, ausências...
Nada de emails, nada de mensagens, nada de contato ou lembrança, nem um oizinho. No máximo uma resposta quando faço uma pergunta.
Quantos compromissos uma pessoa pode ter, que não existe tempo pra uma mensagem de boa noite? Se o trabalho é a prioridade na vida, então, por conseqüência, o amor não é mais. No máximo um segundo lugar, a não ser que tenha que competir com a tese, ou com a militância, a faculdade, ou com qualquer coisa mais importante, como a previsão do tempo, sei lá. Então outras e outras coisa serão prioridade.
Por mais que tenha sido combinado, cada um segue sua vida, desculpa, mas não dá. Eu não sei seguir com a minha vida, enquanto parte dela está em outro lugar.
Não digo que estagnei tudo, continuei trabalhando, estudando, lendo, bebendo, mas em relação a pessoas, ah, como elas me aborrecem! Quantos homens desinteressantes, narcisistas, pouco criativos. Mudou o mundo, ou mudei eu? Acho que eu mudei, não consigo nem aceitar um convite pra sair. Só de pensar me dá preguiça! Fora que não estou nem um pouco interessada em nenhum tipo de contato físico, ok?
O problema é, não consigo, nem quero me desvincular dessa relação a distância, poderia mantê-la por muito tempo. Só que eu também preciso que duas pessoas estejam presentes, e não eu sozinha. Se é pra ficar sozinha, então é melhor abortar a missão de uma vez, e não ficar numa corda bamba, tentando descobrir o que está acontecendo.
Quando a solidão bateu, eu fui a escolha óbvia, mas agora que ela não se mostra tanto, eu também não sou necessária. Oi? Virei muleta. Apenas isso. Um placebo, um engodo, um passatempo.
E agora, sozinha em casa, numa sexta à noite - quase bêbada, já que fiz dessa garrafa de vinho a minha muleta - eu fico me perguntando... na verdade são tantas perguntas que nem sei.
Fui eu? Insisti quando não devia? Deixei me levar? Não percebi que não estava tudo bem? Não, eu percebi sim. Senti a mesma coisa em Minas. Mas desta vez foi mais sutil. O trabalho? Ah, sim, o trabalho, claro. O golpe de misericórdia. O carrasco piedoso, "eu não queria te matar, mas são ordens". "Eu não queria te dar o fora, mas a minha cabeça anda confusa". Sei.
Quando uma pessoa muito íntima atende o telefone, e te chama pelo nome, sendo que existem milhares de outros apelidos, isso quer dizer alguma coisa?
Tenho um amigo, que namora um cara em outro país. Milhares de quilômetros de distância, que não impedem que eles se falem pela webcam todo dia. Os dois são muito ocupados, mas conseguem se falar. E eu? Menos de 400 quilômetros, e sou chamada pelo nome. Só faltou manda "um abraço" no final.
Não posso seguir com a minha vida e "esquecer", quando existem assuntos pendentes. Se fosse apenas uma affair, tranquilo, mas existem sentimentos mais sérios envolvidos. Ou será que é apenas uma relação unilateral?
Não sou ciumenta, sentimental demais, nem paranóica, mas tenho uma intuição que não me trai. E sei exatamente, quando alguma coisa está fora da ordem.
E este é um desses momentos.
E como confio na minha intuição, sei muito bem o que aconteceu. E posso aceitar.
Mas não aceito a covardia. Onde está o homem na hora de dar uma má noticia? Onde ele está que não tem coragem de avisar que não quer mais continuar?
Pior do que a raiva, a tristeza, a mágoa, é a decepção.
Desculpa gatinho, mas agora quem não quer mais sou eu.