terça-feira, 15 de junho de 2010

Simples como chocolate

Essa semana foi de pagamento. Recebi a bolsa do estágio e paguei as contas do mês. Isso quer dizer que em 5 dias estarei tão lisa quanto semana passada.
Caralho, isso não acaba nunca, quando uma prestação acaba, outra começa, geralmente não por vontade minha. As contas se acumulam, se alternam, se repetem, atrasam, são parceladas, se acumulam, chegam todas ao mesmo tempo, e assim sucessivamente...
Nessa tarde ganhei uma barrinha de chocolate, aquelas recheadas com creme de morango, sabe? Não lembro o nome, uma dessas comunzinhas que têm no caixa do supermercado.
Pois essa barrinha inocente explodiu em lembranças na minha cabeça.
Quando era criança (ah, que saudades que eu tenho do meu tempo de criança, que saudade ingrata...), sempre pedia um ovo de chocolate com morango na páscoa.
Daí eu lembrei do gosto que o bendito chocolate tinha: gosto sem culpa! Apenas o doce, sem pensar nas calorias, na gordura trans, na celulite, na corrida que vou fazer porque quebrei a dieta! Coner chocolate porque deu vontade, não porque preciso de doce na TPM. Simplesmente sabor. E comer cada pedacinho, curtindo, saboreando, lambuzando, e nem aí pro farelo na cama!
Ao mesmo tempo, lembrei que meus pais faziam pegadinhas de coelho pela casa, e me acordavam cedinho: "filha, o coelho deixou um presente, vamos procurar!"
Ah, e o pijama peluciado, e o calorzinho da casa fechada de manhã, meus pais se prestando à brincadeira... que coisa boa.
Pode ser que a lembrança seja mais enfeitada do que o acontecido de fato, mas a memória nos prega essa peças!
Sempre que penso na páscoa, lembro do meu pai. Não nos falamos há anos! Não sei porque, mas nessa data a lembrança fica mais forte. Ele não come chocolate, e eu sempre queria comprar amendoim, afinal "amendoim ele come, mãe!"
Eu sabia do prazer da páscoa e do chocolate (embora não tivesse essa consciência), e queria que ele se sentisse feliz com isso também.
Numa daquelas "caçadas", ganhei um bloco de desenho imenso e lápis de cor. O bloco ficou na memória. Desenhei um cavalo imenso, que ficou sem cabeça por causa da minha escassa noção de espaço, mas ficou o cavalo mais lindo do mundo assim mesmo.
Também pensei na minha mãe, pensei nela com tanta força, com tanta saudade... Pensei em tudo que ela passou, o que enfrentou, o jeito despachado, alegre, agitado, sempre com uma cuia na mão e uma risada que alcança tons tão altos capaz de trincar vidros e arrebentar tímpanos (tenho certeza que isso vai acontecer um dia!).
Pensei no apartamento da Santana, da casa na ladeira, daquela páscoa na Argentina, na casa chiquérrima, de uma tia chiquérrima, que sempre me deixava de cara, de um jeito ou de outro.
Isso tudo acontece na metade da barra, que tem só quatro quadradinhos minúsculos.
Depois dessa nostalgia toda, que deve ter durado um ou dois segundos, meus olhos passaram pela pilha de contas de novo, e os dois últimos pedaços tiveram aquele gosto de chocolate pra curar tristeza. Não teve a menor graça.
Essa vida de adulto às vezes cansa.
Tem horas que eu queria que minha mãe resolvesse meus problemas de novo.
Mas é sexta feira, dia de cerveja.
Vale pelo chocolate das páscoas passadas.



Escrito em 11 de junho de 2010. Nada em clima de dia nos namorados, mas tudo bem. 


2 comentários:

Alberto Ferreira disse...

Uau! tá escrevendo bem heim?
Gostei de ler, gostei muito.
Beijos com gosto de chocolate então.

artesanatomoksha disse...

Amei !!! As lembranças boas sempre nos trazem nostalgia!
Talvez nao consiga resolver teus problemas, mass.... estarei sempre ao teu lado para isso.!!