Nem vou falar dos casos de estupro, ou de má formação. Apenas do direito de escolha, pessoal e intransferível!
Chás, ervas, poções do todo tipo fazem parte do universo feminino. Toda mulher conhece algum chazinho pra descer a menstruação, toda mulher conheçe alguma outra mulher que já passou por uma situação complicada como uma gravidez indesejada.
E isso acontece? E agora? Agora a mulher carrega todo o fardo sozinha, seja qual for sua decisão. Se decide ter esse filho nesse momento, tendo ou não um pai presente, vai enfrentar muitos desafios. Vai ter que encarar o olhar de reprovação dos amigos, da família, da família do pai (caso ela se manifeste), do patrão; vai sentir seu corpo se modificando (leia-se deformando) dia após dia, vai sentir o enjoos, vai sentir o cansaço, o peso da barriga, as estrias, o peito crescendo de maneira descomunal, o medo e a dor do parto; é a mulher que vai deixar de beber e sair na noite, é a mulher que vai acordar nas madrugadas para amamentar, ela vai ficar com os peitos cheios de leito manchando as camisas! E por mais que o homem possa participar nisso tudo, a vida dele nao se tranforma tanto.
Se por outro lado, a mulher decide que esse não é o momento certo para esse filho nascer, que ela não tem estrutura psicologica, financeira, social, para ser mãe (e sim, pode ser sexualmente madura, mas nao estar pronta para ter filhos! qualquer um que argumente em contrário está sendo ridiculamente moralista!), e toma a decisão de abortar, e agora? No Brasil, o aborto é proibido, e quem comete esse delito cumpre pena, presta serviço comunitário. Se isso não for verdadeiro, por favor, me corrijam. Mas também me digam se não é um crime forçar uma mulher a modificar sua vida pelo avesso, e ter um filho que não quer.
A mulher que toma essa decisão sofre. Não é fácil. Tenho amigas que abortaram há anos, mas até hoje lembram a data exata que o fizeram. Essa mulher vai tomar todos os tipos de chás e remédios que lhe indicarem, os mais amargos possíveis, vai buscar clínicas, sabe-se lá quais e como ela vai encontar! Ela vai olhar crianças na rua durante anos, e vai lembrar do que fez, mas também vai lembrar que não podia fazer diferente na epoca.
E mais uma vez, caso o homem participe do processo, não vai passar pelo procedimento, pelo medo, pela desconfiança, pela dor, não vai sangrar, não vai ter que fazer curetagem caso algo dê errado, não vai ter que mentir, e quando passar toda a agitação, é bem capaz que comente com amigos e dê risada como quem diz "me livrei de uma!".
Não cabe a ninguém julgar. É uma decisão que cabe apenas à mulher! Apenas ela pode decidir o que vai ser do seu corpo e da sua alma. Quem nunca passou por isso, não pode julgar o sofrimento alheio, e mesmo quem passou, não tem esse direito, cada pessoa é diferente.
"Pesquisa revela que uma em cada sete mulheres já abortou no Brasil
Agência Brasil
Uma em cada sete brasileiras entre 18 e 39 anos já abortou. Cerca de 80% delas têm religião, 64% são casadas e 81% são mães. Isso é o que mostra o primeiro levantamento direto sobre o aborto no país, feito pela Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.
Foram entrevistadas 2.002 mulheres, das quais 15% declararam já ter abortado. De acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número representa 5,3 milhões de mulheres.
Um dos mitos derrubados pelo estudo é o de que abortar é mais comum em classes sociais mais baixas e entre adolescentes. “Quem aborta é a mulher comum, é sua prima, namorada ou vizinha”, afirma um dos coordenadores do estudo, o pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Medeiros.
O aborto ocorre em todas as classes sociais mas, na maioria das vezes, em aproximadamente 35% dos casos, a mulher recebe entre dois e cinco salários mínimos. A faixa etária em que mais abortam é entre 20 e 24 anos. Cerca de 24% das entrevistadas declararam ter feito o aborto nessa idade.
Os dados da pesquisa são inéditos porque até agora os números sobre aborto no país eram baseados em estimativas indiretas, como a procura por serviços públicos de saúde após um aborto.
Para Medeiros, o dado mais surpreendente é que 55% das mulheres são internadas logo após o aborto. “É uma taxa muito alta e isso é gravíssimo porque significa não só que elas precisaram ir a um hospital, mas que permaneceram lá com sérias complicações de saúde”, afirmou.
O pesquisador defende a descriminalização do aborto como forma de reduzir os danos à saúde da mulher. “Esses números terão impacto nas discussões sobre a legislação, afinal agora sabemos que a mulher que aborta está no nosso cotidiano. Você quer que sua conhecida que abortou seja presa?”, questiona.
Atualmente, só é permitido abortar se a gravidez oferece risco à vida da mulher ou quando é resultado de estupro. Ainda este ano, o Supremo Tribunal Federal deve decidir sobre a permissão da retirada do feto também em casos de anencefalia (má-formação que impede o desenvolvimento do cérebro).
No Congresso, deve ser votado o Estatuto do Nascituro, lei que garante proteção jurídica aos embriões, o que eliminaria a possibilidade de aborto legal em qualquer caso, inclusive o de estupro."
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