sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Poema de amor

Pablo Neruda


Nós perdemos também este crepúsculo.
Ninguém nos viu à tarde de mãos unidas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Vi, de minha janela
a festa do poente nos montes distantes.

Ás vezes qual moeda,
acendia-se um pouco de sol nas minhas mãos.

Eu te recordava com a alma apertada
por essa tristeza que tu me conheces.


Então, onde estarias?

Junto a que gente?
Dizendo que palavras?
Por que me há de vir todo o amor de um golpe

quando me sinto triste, e te sinto distante?


Caiu-me o livro que sempre se escolhe ao crepúsculo,
e como um cão ferido rolou-me aos pés a capa.


Sempre, sempre te afastas pela tarde
até onde o crepúsculo corre apagando estátuas.





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