Ontem, ao meio dia fui votar.
Em dia de eleição, ainda mais com esse feriado prolongado, Porto Alegre fica vazia, tão vazia que chega a ser estranho, parece uma cidade do interior, ou o fim dos tempos. Mas voto num colégio perto de casa, entre sair, votar e voltar não se passaram nem 10 minutos.
Nesse intervalo de tempo, um babaca atravessou a rua, e passou a mão na minha bunda. Com toda a liberdade que o machismo cretino dele o fazia crer que tivesse. Simplesmente assim.
No mesmo dia, as 19 horas, o Brasil comemorava sua primeira presidente mulher. A 11º da América Latina, como escutei por ai.
Nesse mesmo país, uma mulher é estuprada a cada 12 segundos. Isso quer dizer, que entre o babaca que passou a mão em mim, e a confirmação de eleição da Dilma, mais de duas mil mulheres foram estupradas.
Só eu acho isso uma grande palhaçada?
Comemorar e divulgar a eleição de uma mulher, só confirma o nosso machismo. Não foi uma mulher, foi uma pessoa preparada e qualificada, que batalhou muito, que teve assessoria durante vários meses, que participou de debates, que militou, que estudou, que viajou o Brasil inteiro. Assim como qualquer outro candidato faria. Agora celebra-se estardalhosamente porque essa pessoa era uma mulher. E dai? Alguém duvidava que uma mulher poderia fazer isso?
Não. A verdadeira comemoração foi porque isso realmente representa um avanço. Mulheres são tão qualificadas, ou mais do que homens. Não existe profissão que uma mulher não desempenhe melhor do que um homem. Nem construção civil! Mas sempre vai existir algum machista idiota pra dizer que "dirige como uma mulher", ou "chora como uma mulher".
Cuidado Dilma.
Cuidado nós, mulheres, pois não adianta só mostrar competência e qualificação. É preciso mostrar excelência. Não temos o direito de errar. Isso é um privilégio masculino. Ao primeiro escorregão da nova presidente, tenho certeza que vou ouvir na rua "mulher dá nisso!" E obviamente, as glórias que virão com o governo serão fruto da sua capacidade como ser humano, ninguém vai reconhecer que um homem não faria da mesma forma.
Machismo? Feminismo? Não. Existem diferenças.
Já reparou como o pai e a mãe assumem papéis diferentes? Como uma chefia masculina ou feminina é diferente? Grupos de amigos homens ou mulheres são diferentes. Existe diferença. Claro que sim. Negar isso seria ridículo.
É preciso que as pessoas entendam que não se deve negar as diferenças e particularidades, e sim respeitá-las.
As ditas diferenças de gênero, são formadas e consolidadas na criação dos filhos. Quando os pais incentivam gurias a cuidarem da casa, a brincarem de boneca, quando contam historinhas de princesas delicadas e frageizinhas que esperam infinitamente o resgate do príncipe.
Me pergunto com que os guris aprendem a desrespeitar o corpo alheio. Não me digam que as mulheres se desvalorizam. Se um babaca sair sem camisa na rua ninguém vai passar a mão nele. Isso é ensinado geração após geração. Não me digam que mulheres se desvalorizam. Eu tenho todo o direito do mundo, de usar uma camiseta curta no verão de um país ocidental, de sair de vestido, de usar o que quiser, sem que ninguém encoste em mim. Ou grite, assobie, babe, bata palmas, xingue, nem nada disso.
Mas não vivemos numa sociedade ideal.
Mas comemoramos uma mulher com o mais alto cargo público que se pode ter.
Existe a promessa de não mexer com a legislação sobre o aborto, aliás, uma lei machista, como várias outras!
Mas assim mesmo, é um passo. Não é a vitória. Estamos longe dela.
Parabéns Dilma.
Muito trabalho pela frente.
Muita luta, pra todas nós.
3 comentários:
PQP que texto bom, parabéns Nalin, desculpa a ligação ontem de madrugada do tio. Chorava feito criança. Valeu toda a militância. Um puta orgulho de ser teu tio.
Beijos.
Bacana tua análise Nalin! Diferenças precisam ser respeitadas e não exaltadas. Escreveste bem! Bjo
Foda, gostei
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